Matemática integra saberes e humaniza conhecimentos

A palestra do matemático e engenheiro civil Ricardo Kubrusly, sob o tema ‘E a Matemática; está em todo lugar ou em lugar algum?’ foi destaque da aula inaugural do Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Culturas e Artes (Mestrado e Doutorado), ocorrida na Unigranrio/Caxias. Ele, que é professor titular do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia (UFRJ), conduziu sua conferência com técnica absoluta, poesia e no ritmo de uma crônica entremeada com bom humor. Ricardo considerou que o mundo está cansado de ser dividido em pedaços, e que ‘precisa ser visto de uma maneira unificada, com os saberes conversando num mesmo lugar’. Ele também enfatizou que a relação da matemática com esse grupo de pesquisadores da Unigranrio é de enorme importância.
Veja o depoimento de Ricardo Kubrusly logo após sua palestra na Unigranrio.
A matemática está em todos os lugares?
No mundo da matemática, nem tudo pode ser considerado como definitivo.
Segundo este engenheiro e cronista, que já se impressionava quando sua professora de infância dizia que a matemática estava em todos os lugares, seu dom de discordar do óbvio, das formas, do absolutismo e das frases definitivas o acompanhou por inúmeras estações do ano e por importantes momentos de sua trajetória de sucesso. Esse estudioso de visão crítica acerca do exercício de sua profissão comentou, durante a palestra, que se tornou matemático apenas para saber aonde estava a tal da matemática.

A matemática sob análise de um historiador e cronista da era moderna.
Ricardo Kubrusly soube prender a atenção de todos alunos do Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Culturas e Artes, além de seus acadêmicos da UFRJ, que o acompanham como quem segue um ídolo em shows pelo país. Depois de ver muitos filmes científicos e outros mais, com o passar dos anos, Ricardo se tonou professor de matemática, embora aquela dúvida de infância fosse a mesma de muita gente. “Para quem escolhesse seguir o campo da matemática, o mundo deixava de ter sentido como coisa sensorial.


Um marceneiro mostrou ao matemático e engenheiro que matemática nem sempre é exata.

Dependendo de onde você mora, Bangu poder ser longe ou perto. “Eu moro numa casa muito grande, em Niterói, onde tenho muitos móveis. Para mim, o marceneiro é o profissional mais importante de uma casa, porque muitos objetos que preservamos são feitos de madeira. Ao conversar com o marceneiro Armando, o qual contratei após ele ter trabalhado na TV Manchete, pedi-lhe que calculasse o arremate da mesa de casa, que já estava quase pronta. O seu armando mediu a espessura do pedaço que faltava, referente ao perímetro da mesa, mas eu queria mostrar a ele que eu conhecia matemática. Seu Armando me disse ‘Eu vou calcular esse perímetro, fácil, fácil, porque é só medir o diâmetro x PI, senhor Ricardo. O senhor sabe que o PI equivale a 3, 25, indagou o marceneiro”.
“Professor Ricardo, aqui em Bangu, PI vale 3,25, pode acreditar”.
“Eu não resisti, embora desse ao marceneiro a impressão de que ele estivesse certo sobre sua afirmação. O senhor pode estar jogando fórmica fora com tais medidas, Armando”, confirmou Ricardo. Logo após, ele pegou sua calculadora e achou o número 3,14, mas a medida que parecia uma elipse, para sua surpresa, não dava para completar a peça de madeira que faltava para concluir a mesa”, respondeu o matemático. Seu Armando, que já havia pedido uma cerveja, disse que era bom beber mais uma. Depois, ao voltar, concluiu: “professor Ricardo, aqui em Bangu, PI vale 3,25, pode acreditar”.

No balanço das horas, tudo pode mudar!

O matemático Ricardo Kubrusly valoriza a matemática, mas faz críticas construtivistas que expressam algo acima dos conceitos de precisão, numa inversão procedente, onde procura entender sobre coisas relativas ou pretensamente categóricas . “Cheguei a conclusão que PI é diferente de PI. A história de seu Armando ainda mexe comigo. Aonde mora a matemática que tem círculo perfeito? Vocês conhecem alguma coisa perfeita fora das religiões? Perfeito são os deuses, aqueles nos acompanham. Eu, Ricardo, tenho medo do descontínuo, porque remete à minha morte”, conclui o palestrante.